A obra do filósofo finlandês Pekka Himanen é iniciada na sua introdução com o entendimento que os próprios hackers tem de si mesmos: “Indivíduos que se dedicam com entusiasmo à programação, que acreditam que o compartilhamento de informações é um bem poderoso e positivo, e que é dever ético dos hackers compartilhar suas experiências elaborando softwares gratuitos e facilitar o acesso a informações e a recursos de computação sempre que possível”. Esta conceituação traz consigo uma idéia que diverge do olhar do senso comum acerca da associação do termo hacker com criminosos da informática, ao contrário elege esses como detentores de uma grande responsabilidade social que é a de utilizar todo o seu potencial técnico e criativo para facilitar o acesso a informações e a recursos de computação sempre que possível. Ao desvincular os hackers de objetivos meramente comerciais, Pekka enfatiza o significado social não somente de atividades profissionais especializadas de informática, e sim de qualquer atividade profissional humana.
Uma das grandes lições que podem ser extraídas é a grandiosidade da motivação que move os hackers no seu trabalho, trabalho este no qual o prazer e o desafio caminham juntos com a liberdade, proporcionando um clima de criatividade extremamente necessária no profissional de tecnologia.
O motivo que leva os hackers do Linux a entrar em ação é que eles acham isso interessante e gostam de compartilhar suas descobertas com outras pessoas. E, a partir daí, é possível se divertir fazendo algo interessante e também preencher a parte social.
O livro trata do surgimento de uma nova ética do trabalho, diferente da ética protestante tão bem descrita por Max Weber há quase cem anos, onde a noção de trabalho aparece como dever, como vocação. A nova ética do trabalho é a caracterizada, pelos hackers. Mas, quem são esses hackers? A partir da própria orelha do livro, Himanen avisa: não se trata dos criminosos da computação -sentido recente e desafortunado que está tomando este termo-, mas sim dos hackers no sentido original da palavra, os entusiastas programadores de computação.
Entretanto, a bibliografia usada novamente desconcerta: de Platão a Richard Stallman – um dos maiores precursores do “hackerismo” e criador do GNU – à regras beneditinas e “statements” da SUN Microsystems, passando por Castells, Baudrillard, Dante e Agostinho (entre outros!). Surge então a inevitável pergunta: será que o autor conseguiu unir tantas e tão heterodoxas pontas e apresentar para o leitor um argumento convincente sobre uma nova ética do trabalho? Embora deixando temas em “aberto”, com muito de exploratório e sem a densidade rigorosa que se espera de qualquer “Ética”, o autor consegue definir um texto coerente e dinâmico. Com originalidade, coloca em diálogo algumas das grandes preocupações do homem de hoje e as questões do homem de sempre, mas, neste caso, apontadas para o atual contexto da Era da Informação.
A nova ética do trabalho, principalmente encarnada na atualidade pelos hackers, tem como precursora a academia. Os acadêmicos foram sempre um exemplo de relação mais flexível e livre com o trabalho. Por conseguinte, o autor apresenta no percurso do livro uma definição mais abrangente de hacker. Hacker é aquele entusiasta em qualquer tipo de trabalho, aquele que realiza seu trabalho com paixão, habilidade e cuidado artesanal. Aqui Himanen toma carona de um postulado dado por Torvalds no seu curto prólogo. Para o criador do Linux, existem três categorias básicas de motivações: a sobrevivência, a vida social e o entretenimento. Essa última, que vem depois de superadas as duas primeiras, deve ser entendida com E maiúsculo pois trata-se do tipo de estímulo que nos tira do tédio e do aborrecimento dando sentido às nossas vidas. Esclarece Torvalds que não está falando do entretenimento no sentido de jogar Nintendo mas sim do xadrez, da pintura e “da ginástica mental que envolve tratar de explicar o universo”. Por isso, o Entretenimento pode ser qualquer coisa intrinsecamente interessante e desafiante, mas no entanto fundamental na vida de cada pessoa.
Himanen, contudo, traduz “Entretenimento” por paixão: a dedicação a uma atividade que seja intrinsecamente interessante, inspiradora e que cause regozijo. Trata-se, diz, do tipo de relação apaixonada com o trabalho que historicamente caracterizou o mundo intelectual. Critica, portanto, a relação do trabalho com o tempo estabelecida pela ética protestante. A ética protestante baseia-se no postulado: “tempo é dinheiro” e coloca o tempo regular do trabalho como o centro da vida das pessoas. Hoje, se pretende não só a otimização do (tempo do) trabalho mas também a “otimização da vida”. O que acaba acontecendo é que o tempo de lazer e até o cuidar dos filhos assumem o padrão do tempo de trabalho. Fala-se muito, por exemplo, de “tempo flexível”, mas, segundo o autor, essa nova flexibilidade, embora contribua para uma organização mais holística do tempo, está reforçando a centralidade do trabalho e as novas tecnologias estão ajudando particularmente isso a acontecer, afirma Himanen. Os hackers, porém, não subscrevem ao adágio “o tempo é dinheiro”, e sim “o tempo é minha vida”.
Neste sentido, a ética protestante sempre foi uma ética do dinheiro. Segundo Weber, o valor mais alto era “ganhar mais e mais dinheiro”. Entretanto, na prática, tanto o trabalho, como o dinheiro constituíram-se em fins em si mesmos. Ainda mais; no antigo capitalismo, argumenta Himanen, o trabalho, como valor, posicionava-se mais alto que o dinheiro e, por isso, foi entendido como ética do trabalho protestante. Na nova economia, entretanto, mesmo que ainda possua um valor autônomo importante, o trabalho foi subordinado ao dinheiro. É assim que a nova economia informacional é também uma prolongação da antiga ética protestante. O que é enfatizado como valor supremo é justamente o dinheiro. Para os hackers, pelo contrário, o fator organizador básico da vida não é nem o trabalho, nem o dinheiro, é a paixão. Sua ética de trabalho enfatiza a atividade apaixonada e o ritmo livre do uso do tempo.
Entretanto, se no paradigma industrial uma pessoa era treinada para trabalhar das nove às cinco durante toda sua vida produtiva, esse não é mais o caso na economia informacional. O novo profissional informacional é “auto-programável “, tem a habilidade de re-treinar a si mesmo e adaptar-se a novas tarefas e processos. Ele deve aprender a ser seu próprio gerente e programar-se para trabalhar mais eficientemente. Não é por acaso, então, que muitos deles buscam a literatura de auto-ajuda, a literatura de “desenvolvimento pessoal”. Himanen analisa um a um seus postulados e constata uma coisa interessante. Essa literatura ensina as mesmas virtudes que a velha ética protestante ensinou através de Franklin. Mais ainda, essas virtudes têm seu precedente nas regras monásticas Beneditinas, na era medieval. São valores no sentido filosófico tradicional, ou seja, os objetivos finais que guiam a ação. Coloca o autor que, tanto no mosteiro, como na literatura de desenvolvimento pessoal, o que se oferece é a promessa de uma experiência de claridade e certeza para a vida. A vida torna-se mais manejável se reduzida a um objetivo para cada momento no tempo. Cada pessoa só precisa se concentrar em um ponto fixo e excluir todo o resto. Particularmente numa era como a nossa, complexa e acelerada, essa literatura promete um novo tipo de “salvação”. Não é por acaso que ela, como também diferentes fundamentalismos, tornaram-se mais atrativos na sociedade rede.
O autor conclui que, tanto nessa literatura de desenvolvimento pessoal, quanto no espírito da sociedade rede em geral, a lógica das redes de computador é aplicada aos seres humanos e a suas relações: “Os seres humanos são tratados como computadores, com rotinas mentais que sempre podem ser re-programadas de forma melhor…a gente deve se conectar com pessoas que são úteis para o nosso objetivo e se desconectar daqueles que não o são ou que inclusive sejam prejudiciais ao objetivo…” A lógica da rede e do computador nos aliena da preocupação direta com os outros, preocupação que é o começo de toda conduta ética. Na “sociedade-rede” [1] a ética teria sido substituída por uma filosofia de sobrevivência, e isto se explica a partir da atual relação com o tempo. A ética [2] precisa do pensamento sem pressa e da perspectiva temporal de longo prazo. Com a aceleração atual das práticas sociais surge, segundo Himanen, uma “barreira ética”, uma velocidade a partir da qual a ética não pode mais existir.
Himanen vê nos valores que guiam a conduta dos hackers a saída, poderíamos dizer, desta versão exacerbada -e até distorcida- da ética protestante. Na ética do hacker, o principal valor é a paixão, entendida como uma busca intrinsecamente interessante que regozija com sua realização. Os outros valores são a liberdade, no sentido de que o trabalho seja criativo e tenha espaço para o jogo e a experimentação, a abertura e o sentido social -a Internet e o computador pessoal, lembra Himanen, não existiriam sem os hackers que deram sua criação para outros- e, finalmente, o que ele chama de atividade e preocupação. A atividade é definida como a liberdade de expressão em ação. Ela inclui: privacidade para proteger a criação do estilo de vida individual próprio e rejeição da receptividade passiva, em benefício de uma busca ativa da própria paixão. A preocupação, no entanto, é o interesse pelos outros colocado como um fim em si mesmo e o desejo de se libertar, na sociedade-rede, da mentalidade de sobrevivência que tão facilmente surge como resultado de sua própria lógica. É por tudo isso que o autor acredita que a ética do hacker pode representar um espírito genuinamente novo. Nele, o sentido não pode jamais ser encontrado no trabalho, nem mesmo no puro lazer. Ele tem que surgir da natureza própria da atividade, da paixão, do valor social e da criatividade.
O “Epílogo” de Manuel Castells -a verdade seja dita- não tem muito a ver diretamente com a ética do hacker. Dá, isso sim, o contexto do mundo em que vivemos e assinala as profundas transformações que nos levaram do paradigma industrial ao informacional e, também, da mudança qualitativa que representa para a experiência humana viver em um novo tipo de sociedade: a “sociedade-rede”. Trata-se, na realidade, de um bom resumo da Era da informação -mas insuficiente quiçá, para quem ainda não leu a trilogia [3] – com algumas poucas ênfases novas a respeito da primeira edição de 1996 (a importância da revolução da engenharia genética, as características de “autômato” que tem tomado a estrutura social de rede, etc.). Reserva, no entanto, só o parágrafo do final para salientar a importância inovadora da teoria de Himanen sobre “a cultura dos hackers como o espírito do informacionalismo” -note-se que Himanen não fala exatamente disso, mas da ética dos hackers como alternativa possível ao espírito que está prevalecendo no informacionalismo. Mesmo assim, a leitura do “Epílogo” de Castells vale a pena como outra nova e sintética reformulação de sua instigante teoria sobre a desconcertante realidade em que vivemos.
Mapa Mental
domingo, 24 de abril de 2011
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Cibercultura
Cibercultura é uma expressão criada por Pierre Levy para sintetizar o mundo digital centralizando múltiplos usos.
Um exemplo é que a palavra ou texto deixa de ser apenas um agrupamento de letras e passa a adotar um conjunto de fontes de informações como desenhos, vídeos, gráficos, músicas, vídeos reforçando a idéia ou o conjunto delas iniciada.
Filmes como Inteligência Artificial ou Matrix são as películas com a marca da cibercultura. No mundo musical Billy Idol é um dos ícones e o ritmo tecno invade as pistas, rádios e tímpanos.
O filósofo Pierre Lévy no livro Cibercultura apresenta três princípios fundamentais para o programa da Cibercultura: a interconexão, as comunidades virtuais e a inteligência coletiva.
Lévy afirma que para a cibercultura a conexão é sempre preferível ao isolamento, é um bem em si. Para além de uma física da comunicação, a interconexão constitui a humanidade em um contínuo sem fronteiras. O segundo princípio prolonga o primeiro já que o desenvolvimento das comunidades virtuais se apóia na interconexão. Uma comunidade virtual baseia-se em afinidades de interesses, de conhecimentos, em um processo de cooperação ou de troca, independente de proximidades geográficas. Segundo Lévy o terceiro princípio, da inteligência coletiva, seria sua perspectiva espiritual, sua finalidade última. Concordamos com o autor pois não há comunidade virtual sem interconexão, não há inteligência coletiva em larga escala sem virtualização ou desterritorialização das comunidades no ciberespaço e a interconexão condiciona-as que são uma inteligência coletiva em potencial.
O filósofo Pierre Lévy (Cibercultura, 1999, p: 127) afirma no livro Cibercultura que são três os princípios fundamentais para o programa da Cibercultura: a interconexão, as comunidades virtuais e a inteligência coletiva. Lévy afirma que a para a cibercultura a conexão é sempre preferível ao isolamento, é um bem em si. Para além de uma física da comunicação, a interconexão constitui a humanidade em um contínuo sem fronteiras. O segundo princípio prolonga o primeiro já que o desenvolvimento das comunidades virtuais se apóia na interconexão. Uma comunidade virtual baseia-se em afinidades de interesses, de conhecimentos, em um processo de cooperação ou de troca, independente de proximidades geográficas. Segundo Lévy o terceiro princípio, da inteligência coletiva, seria sua perspectiva espiritual, sua finalidade última.
Concordamos com o autor pois não há comunidade virtual sem interconexão, não há inteligencia coletiva em larga escala sem virtualização ou desterritorialização das comunidades no ciberespaço e a interconexão condiciona-as que são uma inteligência coletiva em potencial.
Um exemplo é que a palavra ou texto deixa de ser apenas um agrupamento de letras e passa a adotar um conjunto de fontes de informações como desenhos, vídeos, gráficos, músicas, vídeos reforçando a idéia ou o conjunto delas iniciada.
Filmes como Inteligência Artificial ou Matrix são as películas com a marca da cibercultura. No mundo musical Billy Idol é um dos ícones e o ritmo tecno invade as pistas, rádios e tímpanos.
O filósofo Pierre Lévy no livro Cibercultura apresenta três princípios fundamentais para o programa da Cibercultura: a interconexão, as comunidades virtuais e a inteligência coletiva.
Lévy afirma que para a cibercultura a conexão é sempre preferível ao isolamento, é um bem em si. Para além de uma física da comunicação, a interconexão constitui a humanidade em um contínuo sem fronteiras. O segundo princípio prolonga o primeiro já que o desenvolvimento das comunidades virtuais se apóia na interconexão. Uma comunidade virtual baseia-se em afinidades de interesses, de conhecimentos, em um processo de cooperação ou de troca, independente de proximidades geográficas. Segundo Lévy o terceiro princípio, da inteligência coletiva, seria sua perspectiva espiritual, sua finalidade última. Concordamos com o autor pois não há comunidade virtual sem interconexão, não há inteligência coletiva em larga escala sem virtualização ou desterritorialização das comunidades no ciberespaço e a interconexão condiciona-as que são uma inteligência coletiva em potencial.
O filósofo Pierre Lévy (Cibercultura, 1999, p: 127) afirma no livro Cibercultura que são três os princípios fundamentais para o programa da Cibercultura: a interconexão, as comunidades virtuais e a inteligência coletiva. Lévy afirma que a para a cibercultura a conexão é sempre preferível ao isolamento, é um bem em si. Para além de uma física da comunicação, a interconexão constitui a humanidade em um contínuo sem fronteiras. O segundo princípio prolonga o primeiro já que o desenvolvimento das comunidades virtuais se apóia na interconexão. Uma comunidade virtual baseia-se em afinidades de interesses, de conhecimentos, em um processo de cooperação ou de troca, independente de proximidades geográficas. Segundo Lévy o terceiro princípio, da inteligência coletiva, seria sua perspectiva espiritual, sua finalidade última.
Concordamos com o autor pois não há comunidade virtual sem interconexão, não há inteligencia coletiva em larga escala sem virtualização ou desterritorialização das comunidades no ciberespaço e a interconexão condiciona-as que são uma inteligência coletiva em potencial.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
LINGUAGENS E TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO
Até esse momento, a característica básica da relação do ser humano com as máquinas é o fato desta ser sempre uma relação utilitarista-instrumental. A tecnologia aparece como neutra, está posta a serviço do homem, sendo definida socialmente em função do uso que será dado a ela.
Vivemos hoje um outro momento dessa relação homem-máquina. Essa nova perspectiva poderia ser sintetizada por uma única palavra: imbricamento. Poderíamos, nessa perspectiva, entendê-la como sedo centrada no fazer da razão (a techné do logos). Máquinas e seres humanos aproximam-se cada vez mais e, principalmente, passa-se a compreender que as máquinas surgem a partir do mesmo processo social que constitui o humano.
Assim percebemos que mudam as perspectivas de interação, uma vez que somos obrigados a incorporar essas múltiplas possibilidades de interação. O conhecimento científico passa a estar impregnado de novas dimensões conceituais, não mais centradas na simetria. Os métodos passam a ser outros, afasta-se, assim, a possibilidade do controle absoluto, tanto das variáveis como dos fenômenos. É possível buscar novos contornos para o conhecimento científico e, com isso, analisar as questões educacionais e o uso que estamos dando, na educação para as tecnologias de informação e comunicação (TICs).
A relação com o ser humano passa a ter uma outra dimensão, a partir do momento em que passamos a ter máquinas que buscam imitar o modelo de funcionamento da mente humana, essa relação máquina-ser humano passa a ganhar novos contornos.
Ao pensarmos nas pedagogias correspondentes a esse novo momento, não podemos imaginar a possibilidade de uma pedagogia centrada na lógica da assimilação. Ao contrário, precisamos pensar na possibilidade de pedagogias que nos dêem condições de trabalhar com a diferença enquanto elemento fundante do processo humano. O simples domínio da técnica não possibilita o uso da tecnologia no seu sentido pleno.
Com trabalho em redes, as telas assumem as novas interfaces intra-humanos, cria-se uma nova sociabilidade que, de um lado, pode afogar as individualidades; de outro, pode ser uma potencialização das mesmas. A linguagem das novas tecnologias baseia-se fundamentalmente em ver mais que ler e sentir antes de compreender. A multitarefa são as normas, os símbolos ditam as regras e as comunicações tornam-se mais rápidas.
Precisamos pensar na dimensão social da ciência e da técnica e, com isso, superar a concepção de sermos apenas consumidores dessas tecnologias e sim etendê-las como fruto de uma produção social. O uso que pode ser dado a essas tecnologias vai depender do tipo de sociedade que temos e, principalmente, do tipo de sociedade que queremos.
O que se busca, a partir desse enfoque, é a construção de um novo espaço educacional e comunicacional que tenha como bases essas redes de relações. Assim o substrato dessa nova escola será a diferença e não a identidade.
O conhecimento passa então a ser trabalhado como um espaço acontecimental, na singularidade do que acontece, com sentido e, ao mesmo tempo, ao nível da linguagem, num outro espaço, o das proposições, numa topologia de vizinhança das interações humanas. A aprendizagem seria dada pela interpenetração desses espaços através da intensidade e do sentido. A escola passa a se constituir num espaço aberto de interações não-lineares, ao contrário da perspectiva dominante, em vez de formar para o mercado, trabalhe numa perspectiva de fortalecimento da rebeldia.
Vivemos hoje um outro momento dessa relação homem-máquina. Essa nova perspectiva poderia ser sintetizada por uma única palavra: imbricamento. Poderíamos, nessa perspectiva, entendê-la como sedo centrada no fazer da razão (a techné do logos). Máquinas e seres humanos aproximam-se cada vez mais e, principalmente, passa-se a compreender que as máquinas surgem a partir do mesmo processo social que constitui o humano.
Assim percebemos que mudam as perspectivas de interação, uma vez que somos obrigados a incorporar essas múltiplas possibilidades de interação. O conhecimento científico passa a estar impregnado de novas dimensões conceituais, não mais centradas na simetria. Os métodos passam a ser outros, afasta-se, assim, a possibilidade do controle absoluto, tanto das variáveis como dos fenômenos. É possível buscar novos contornos para o conhecimento científico e, com isso, analisar as questões educacionais e o uso que estamos dando, na educação para as tecnologias de informação e comunicação (TICs).
A relação com o ser humano passa a ter uma outra dimensão, a partir do momento em que passamos a ter máquinas que buscam imitar o modelo de funcionamento da mente humana, essa relação máquina-ser humano passa a ganhar novos contornos.
Ao pensarmos nas pedagogias correspondentes a esse novo momento, não podemos imaginar a possibilidade de uma pedagogia centrada na lógica da assimilação. Ao contrário, precisamos pensar na possibilidade de pedagogias que nos dêem condições de trabalhar com a diferença enquanto elemento fundante do processo humano. O simples domínio da técnica não possibilita o uso da tecnologia no seu sentido pleno.
Com trabalho em redes, as telas assumem as novas interfaces intra-humanos, cria-se uma nova sociabilidade que, de um lado, pode afogar as individualidades; de outro, pode ser uma potencialização das mesmas. A linguagem das novas tecnologias baseia-se fundamentalmente em ver mais que ler e sentir antes de compreender. A multitarefa são as normas, os símbolos ditam as regras e as comunicações tornam-se mais rápidas.
Precisamos pensar na dimensão social da ciência e da técnica e, com isso, superar a concepção de sermos apenas consumidores dessas tecnologias e sim etendê-las como fruto de uma produção social. O uso que pode ser dado a essas tecnologias vai depender do tipo de sociedade que temos e, principalmente, do tipo de sociedade que queremos.
O que se busca, a partir desse enfoque, é a construção de um novo espaço educacional e comunicacional que tenha como bases essas redes de relações. Assim o substrato dessa nova escola será a diferença e não a identidade.
O conhecimento passa então a ser trabalhado como um espaço acontecimental, na singularidade do que acontece, com sentido e, ao mesmo tempo, ao nível da linguagem, num outro espaço, o das proposições, numa topologia de vizinhança das interações humanas. A aprendizagem seria dada pela interpenetração desses espaços através da intensidade e do sentido. A escola passa a se constituir num espaço aberto de interações não-lineares, ao contrário da perspectiva dominante, em vez de formar para o mercado, trabalhe numa perspectiva de fortalecimento da rebeldia.
A PRÁXIS PEDAGÓGICA PRESENTE E FUTURA E OS CONCEITOS DE VERDADE E REALIDADE FRENTE ÀS CRISES DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO NO SÉCULO XX
A reconfiguração da cosmovisão moderna está intimamente relacionada com as novas problemáticas, complexas, multipolares, que estão emergindo na contemporaneidade. Essas problemáticas têm provocado tensões, reconfigurações, articulações, implicações, no interior das formações sociais, subjetivas e políticas, sendo que os novos meios técnico-científicos têm papel significativo nesse processo.
Já a cosmovisão contemporânea tem mostrado que nenhum sistema pode ser olhado como se fosse isolado por completo e autodeterminado, e nenhuma imagem ou analogia é equivalente ao próprio objeto, pois elas estão impregnadas pelo viés de quem as está enunciando.
Realidade e verdade estão imbricadas uma na outra; o fato só se torna fato ao se tornar evidente e passar para a instância do dizível. É impossível dizer o que uma coisa é, a priori; ela é a cada acontecimento e nenhum desses acontecimentos são repetidos. Logo, não temos “a verdade!, temos “significações” que emergem a cada atualização, abertas a outras e constantes ressignificações.
A escola atual trabalha no sentido da reprodução e transmissão do modelo hegemônico, fechada à exterioridade. Mesmo quando o modelo pedagógico adotado admite as diferenças, trabalha no sentido de lapidar as arestas e conduzir a uma unidade, a uma identidade hegemônica.
A forma de pensamento que a escola e a universidade impõem aos alunos, desde a infância é, segundo Morin (1996: 275), a de um pensamento disjuntivo e redutor, ou seja, na escola aprendemos muito bem a separar – separamos um objeto de seu ambiente, isolamos um objeto em relação ao observador que o observa e buscamos a explicação do todo através da constituição de suas partes, na tentativa de eliminar a complexidade.
É necessário que ocorra uma transformação profunda, que incorpore as novas formas de ser, de pensar e de agir que estão emergindo na contemporaneidade, principalmente com a presença das tecnologias da informação e da comunicação, tanto na vida de fora como de dentro da escola. Esta presença está a exigir e pode provocar a construção de um novo modelo pedagógico, assim como está a exigir novas formas de construção de subjetividade, de relações sociais e ambientais.. É necessário entendermos a tecnologia não apenas como o fazer, mas também como o dizer, o entender, o intencionar o que se faz.
É fundamental entendermos a educação de forma mais abrangente, para além do espaço escolar, pois todo ser humano, desde o nascimento até a morte, está em permanente processo de aprendizagem e subjetivação. A ação da escola deve ser uma estratégia, “um cenário de ação que pode modificar-se em função das informações, dos acontecimentos, dos imprevistos que sobrevenham no curso da ação” (Morin, 1996: 284-5), uma arte de trabalhar com a incerteza, com o pensamento complexo, um pensamento que sabe que sempre é local, situado em um tempo e em um momento; não um pensamento completo, onisciente, pelo contrário, um pensamento que sabe de antemão que sempre há incerteza.
Já a cosmovisão contemporânea tem mostrado que nenhum sistema pode ser olhado como se fosse isolado por completo e autodeterminado, e nenhuma imagem ou analogia é equivalente ao próprio objeto, pois elas estão impregnadas pelo viés de quem as está enunciando.
Realidade e verdade estão imbricadas uma na outra; o fato só se torna fato ao se tornar evidente e passar para a instância do dizível. É impossível dizer o que uma coisa é, a priori; ela é a cada acontecimento e nenhum desses acontecimentos são repetidos. Logo, não temos “a verdade!, temos “significações” que emergem a cada atualização, abertas a outras e constantes ressignificações.
A escola atual trabalha no sentido da reprodução e transmissão do modelo hegemônico, fechada à exterioridade. Mesmo quando o modelo pedagógico adotado admite as diferenças, trabalha no sentido de lapidar as arestas e conduzir a uma unidade, a uma identidade hegemônica.
A forma de pensamento que a escola e a universidade impõem aos alunos, desde a infância é, segundo Morin (1996: 275), a de um pensamento disjuntivo e redutor, ou seja, na escola aprendemos muito bem a separar – separamos um objeto de seu ambiente, isolamos um objeto em relação ao observador que o observa e buscamos a explicação do todo através da constituição de suas partes, na tentativa de eliminar a complexidade.
É necessário que ocorra uma transformação profunda, que incorpore as novas formas de ser, de pensar e de agir que estão emergindo na contemporaneidade, principalmente com a presença das tecnologias da informação e da comunicação, tanto na vida de fora como de dentro da escola. Esta presença está a exigir e pode provocar a construção de um novo modelo pedagógico, assim como está a exigir novas formas de construção de subjetividade, de relações sociais e ambientais.. É necessário entendermos a tecnologia não apenas como o fazer, mas também como o dizer, o entender, o intencionar o que se faz.
É fundamental entendermos a educação de forma mais abrangente, para além do espaço escolar, pois todo ser humano, desde o nascimento até a morte, está em permanente processo de aprendizagem e subjetivação. A ação da escola deve ser uma estratégia, “um cenário de ação que pode modificar-se em função das informações, dos acontecimentos, dos imprevistos que sobrevenham no curso da ação” (Morin, 1996: 284-5), uma arte de trabalhar com a incerteza, com o pensamento complexo, um pensamento que sabe que sempre é local, situado em um tempo e em um momento; não um pensamento completo, onisciente, pelo contrário, um pensamento que sabe de antemão que sempre há incerteza.
quarta-feira, 23 de março de 2011
Novas Tecnologias: Instrumento, ferramenta ou lemento estruturante de um novo pensar?
No texto “Novas Tecnologias: Instrumento, ferramenta ou elementos estruturantes de um novo pensar?” elaborado pela professora Lynn Rosalina Gama Alves, inicialmente é relatado um breve histórico da utilização do computador na escola desde a década de 70 até o ano de 1998. No início a sua utilização era meramente instrumental visando atender a preparação do aluno para o mercado de trabalho comparando-se os laboratórios das escolas aos cursos de informática.
Houve o desenvolvimento e o crescimento de softwares educativos, que na maioria das vezes eram traduções de softwares americanos e caracterizaram-se por transmitir informações de modo pedagogicamente organizado, como se fossem um livro animado, um vídeo interativo ou um professor eletrônico. Esta perspectiva deixava os professores apreensivos, receando serem substituídos pela máquina.
As empresas desenvolvedoras de software educativo apresentavam uma diversidade de recursos multimídias, mas no que se refere a construção de conceitos e interatividade entre o usuário e o software não permitem nenhuma criação por parte do aluno-usuário.
A leitura hypertextual aqui, é compreendida como o rompimento de uma dimensão hierárquica, linear, seqüencial, instaurando uma dimensão hierárquica, linear, seqüencial, instaurando uma dimensão heterárquica, que para FAGUNDES (1997), garante uma autonomia na tomada de decisões, rompendo com as amarras da seqüencialidade linear, onde a cada teia de conexões, surgem caminhos sempre originais, resultantes de razões individuais e de negociações coletivas.
Utilizar o software pelo software implica em empobrecer a prática pedagógica, mantendo uma postura tradicional frente ao processo de ensinar e aprender, que se limita a transmissão de informações. É, em verdade, uma grande mixagem, que torna inicialmente atrativa a navegação pelo software, mas é logo preterida por se tornar “chata”, limitada, cansativa, repetitiva.
Apesar das recentes discussões em torno das novas tecnologias como elementos estruturantes de um novo pensar, ainda há educadores que reduzem estes elementos a meros instrumentos ou ferramentas que apenas ajudam na condução da aula, ilustram, animam, enfim, o mesmo modelo de educação.
Para PRETTO “... o uso como instrumentalidade esvazia esses recursos de suas características fundamentais, transformando-os apenas num animador da velha educação, que se desfaz velozmente uma vez que o encanto da novidade também deixa de existir.”
Os conceitos de instrumento e ferramenta limitam bastante o potencial dos elementos tecnológicos no contexto social e em especial no ambiente escolar, pois nesta perspectiva a tecnologia termina sendo usada para modelar o pensar humana. Esses elementos tecnológicos (TV, vídeo, computadores, Internet, etc...) passam a ser vistos”...carregados de conteúdo, como representante de uma nova forma de pensar e sentir, que começa a se construir, no momento em que a humanidade começa a deslocar-se de uma razão operativa para uma nova razão, ainda em construção, porém baseada na globalidade e na integridade, em que a realidade e imagem fundem-se no processo.
Estamos trabalhando na perspectiva de considerar estas tecnologias como possibilitadoras de uma multiplicidade de visões de mundo, do rompimento com a noção de tempo e espaço, instaurando uma nova forma de ser e pensar na sociedade. Com isso as nossas relações, o nosso modo de aprender e comunicar, são transformados, possibilitando a construção coletiva do conhecimento.
A Internet, assim como o livro, a televisão, informática e outras inovações técnicas, são tecnologias intelectuais, representantes desse novo pensar. Tecnologias intelectuais aqui compreendidas na perspectiva de Levy (1993), como elementos que reorganizam e modificam a ecologia cognitiva dos indivíduos, promovendo a construção de novas estruturas cognitivas.
Houve o desenvolvimento e o crescimento de softwares educativos, que na maioria das vezes eram traduções de softwares americanos e caracterizaram-se por transmitir informações de modo pedagogicamente organizado, como se fossem um livro animado, um vídeo interativo ou um professor eletrônico. Esta perspectiva deixava os professores apreensivos, receando serem substituídos pela máquina.
As empresas desenvolvedoras de software educativo apresentavam uma diversidade de recursos multimídias, mas no que se refere a construção de conceitos e interatividade entre o usuário e o software não permitem nenhuma criação por parte do aluno-usuário.
A leitura hypertextual aqui, é compreendida como o rompimento de uma dimensão hierárquica, linear, seqüencial, instaurando uma dimensão hierárquica, linear, seqüencial, instaurando uma dimensão heterárquica, que para FAGUNDES (1997), garante uma autonomia na tomada de decisões, rompendo com as amarras da seqüencialidade linear, onde a cada teia de conexões, surgem caminhos sempre originais, resultantes de razões individuais e de negociações coletivas.
Utilizar o software pelo software implica em empobrecer a prática pedagógica, mantendo uma postura tradicional frente ao processo de ensinar e aprender, que se limita a transmissão de informações. É, em verdade, uma grande mixagem, que torna inicialmente atrativa a navegação pelo software, mas é logo preterida por se tornar “chata”, limitada, cansativa, repetitiva.
Apesar das recentes discussões em torno das novas tecnologias como elementos estruturantes de um novo pensar, ainda há educadores que reduzem estes elementos a meros instrumentos ou ferramentas que apenas ajudam na condução da aula, ilustram, animam, enfim, o mesmo modelo de educação.
Para PRETTO “... o uso como instrumentalidade esvazia esses recursos de suas características fundamentais, transformando-os apenas num animador da velha educação, que se desfaz velozmente uma vez que o encanto da novidade também deixa de existir.”
Os conceitos de instrumento e ferramenta limitam bastante o potencial dos elementos tecnológicos no contexto social e em especial no ambiente escolar, pois nesta perspectiva a tecnologia termina sendo usada para modelar o pensar humana. Esses elementos tecnológicos (TV, vídeo, computadores, Internet, etc...) passam a ser vistos”...carregados de conteúdo, como representante de uma nova forma de pensar e sentir, que começa a se construir, no momento em que a humanidade começa a deslocar-se de uma razão operativa para uma nova razão, ainda em construção, porém baseada na globalidade e na integridade, em que a realidade e imagem fundem-se no processo.
Estamos trabalhando na perspectiva de considerar estas tecnologias como possibilitadoras de uma multiplicidade de visões de mundo, do rompimento com a noção de tempo e espaço, instaurando uma nova forma de ser e pensar na sociedade. Com isso as nossas relações, o nosso modo de aprender e comunicar, são transformados, possibilitando a construção coletiva do conhecimento.
A Internet, assim como o livro, a televisão, informática e outras inovações técnicas, são tecnologias intelectuais, representantes desse novo pensar. Tecnologias intelectuais aqui compreendidas na perspectiva de Levy (1993), como elementos que reorganizam e modificam a ecologia cognitiva dos indivíduos, promovendo a construção de novas estruturas cognitivas.
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